16.10.16

CHEGUEI!! ONDE ESTÁS??






O voo foi apaziguador. Dores de ouvidos? Nem vê-las. Apenas os pés se duplicaram de tal forma que me obrigaram a desapertar os atacadores dos ténis. Olhava pela janela e detestava não saber o que sobrevoava. Uma vontade de ligar o google maps tão descomunal quanto descabida. Cá para mim - tal como avisam sobre a futura passagem do carrinho da papa e o timing certo para comprar perfumes e tudo o que eles vendam - também podiam avisar (pelo menos) quando sobrevoássemos um novo país. Se há alguém por aí que seja perito em Geografia e consiga decifrar o que se situa por baixo a cada meia hora que se acuse. Gostava de ter algumas dicas e sentir-me mais internacional quando voltar a voar (o que está para breve, mas vamos deixar esse novidade para quando esta história terminar). 

Uma aterragem que não se sentiu e eu estava, oficialmente, na Bélgica. Estacionaram o pássaro junto do seu respectivo bando. Dez minutos depois estava eu a ser encaminhada para um túnel enquanto panicava por só ali ter dado conta do meu miserável 1% de bateria. Culpa de todas as mensagens que enviei antes de partir (como se me fosse despedir deste planeta e rumasse até Marte), de todas as fotografias que tirei para comprovar mais tarde que tudo aquilo era mesmo verdade (e para vos mostrar, é claro) e das duas horas a ouvir o Un-thinkable (I'm Ready) da Alicia Keys de forma incessante. Novamente, não me julguem. Ouvir aquelas letras dava-me um bónus de confiança extra. And if you ask me I'm ready I'm readyyyy! Ok, chega. 

O telemóvel desliga-se. Fenomenal, como é que eu encontro a Joana agora? Tinha o computador comigo mas o carregador vinha na mala de porão. Perdida mais uma vez. Percorro o átrio daquele aeroporto encantada com as paredes envidraçadas e o chão de glitter. Era realmente de outro mundo, um mundo a mil e setecentos e treze quilómetros. Procuro pelo sítio onde possa receber a minha mala de porão mas não encontro nenhuma direcção específica. Tento aproximar-me de um balcão onde me possam ajudar e antes de pronunciar o que quer que seja alguém se adianta:
- Yes, Madame? - diz uma jovem pouco mais velha do que eu de cabelos loiros, olhos azuis e uma pronúncia charmosamente francesa. Ahhhhhhhhh ela chamou-me madame e chamou de forma honesta e sem ironias. Posso estar perdida da vida, não encontrar a saída daqui mas agora sou uma mademoiselle, como não amar imediatamente este sítio? 

No alto do meu alter ego francês - sim, porque isto de ser madame é quase como acarretar uma mistura de Brigitte Bardot com a Marion Cotillard - consegui finalmente encontrar a sala dos tapetes rolantes. Ainda nem tinha percebido bem o tapete que estaria responsável por entregar a bagagem da minha viagem, quando já vejo A mala a ser levada na direcção oposta. Corro desengonçadamente até  alcançar a mala, como quem não sabe que elas só saem daquele carrossel ao fim de mais de trinta voltas. Ora se a minha compostura credível de título francês já tinha sido meio abanada, após ter que abrir e revolver a mala de porão em pleno aeroporto, foi mesmo por água abaixo. Ah pois, querias ser madame? Não tivesses guardado o carregador no fundo da mala como se só fosses precisar dele daqui as três dias. 

Ligo o telemóvel ao computador e tento ligar à Joana assim que ele volta a dar sinais de vida. CHEGUEI! ONDE ESTÁS?!? Não a tinham deixado entrar porque a segurança no aeroporto tinha sido reforçada devido aos atentados. Agora só quem fazia o check-in podia entrar e apenas quem tivesse acabado de aterrar podia estar dentro do edifício. Ahhh, tudo bem... eu encontro a saída certa neste mundo de corredores... self-sozinha... again.

O momento em que volto a ver a Joana é algo que não consigo descrever por palavras. Foi literalmente um mix of feelings. Apenas vos posso dizer que durante todo o percurso de autocarro que fizemos do aeroporto até Roodebeek, eu consegui interromper a nossa conversa para lhe perguntar mais de cinquenta vezes:
- Acreditas que estamos mesmo aqui?? Na Bélgica? Em Bruxelas? Por favor, espenica-me!

Roodebeek era um local calmo com terminal de autocarros que tinham percurso directo até ao aeroporto e também uma estação de metro. Um género de Sete Rios belga. Foi lá que entrámos no metro e nos dirigimos a Stockel, a última paragem da linha de metro e o local onde a Joana vivia. Finalmente confirmei o que meses antes ela somente relatava sobre Bruxelas: é tudo tão verdinho. 

Era verdade, partilhava agora a admiração dela. Todas as casas tinham jardins em Stockel. Mas não era uns jardins banais. Eram jardins verdadeiramente arranjados, com gosto, dedicação e até me atrevo a dizer, carinho. Nunca na minha vida tinha visto um bairro tão bonito e com uma beleza tão natural. A casa onde a Joana tinha alugado quarto era enorme. Sabem a casa do Kevin McCalister do Sozinho em Casa? Era o mesmo género mas com a diferença de que cada "irmão" era de uma nacionalidade ou canto do país diferente. Só para terem uma noção para chegar ao quarto onde fiquei tive que passar a entrada, subir um andar, atravessar outro corredor, subir outro andar, abrir uma porta que dava para outro corredor que tinha que atravessar e só depois chegava a um pequeno espaço onde se encontrava a porta do quarto. Eu não me considero uma pessoa medrosa mas aquela não seria de maneira nenhuma a casa onde eu ficaria sozinha durante muito tempo. E nem estou a falar de noite porque isso então estaria mesmo fora de questão. Deixo-vos algumas fotografias: a segunda (que tirei da janela do quarto dela), a terceira (que tirei a uma passagem que mais parece saída de um filme e pela qual passávamos mais de duas vezes por dia) e a quarta (que é só assim uma das casas mais cómicas que por lá encontrei e a qual apelidei de casa cogumelo). 

9 comentários:

  1. Encontrei o teu blog agora e apaixonei-me imediatamente por este! Vou seguir, sem dúvida! ( pena não teres um botão de seguir do Blogger, dava mais jeito...).
    Adorei as fotos e o teu texto! Consegui visualizar tudo aquilo que escreveste. Tens mesmo jeito para escrever :).
    Adoro viajar, estou com um pouco de inveja xD ( mas da boa).
    Realmente, a casa parece mesmo a do filme " Sozinho em Casa" ahahahahah xD.
    Beijinhos,
    Cherry
    Blog: Life of Cherry

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    1. Olá, Cherry!
      Realmente tens razão. Já tive esse botão em tempos idos mas entretanto, não o tinha incluído neste novo design.
      Mas posso-te dizer que já está no fundo da página que eu não gosto de dificultar a vida aos meus leitores.
      Não muito centrado, mas isso é algo que tratarei em breve com mais tempo.
      Obrigada pela crítica positiva ao blog e por te juntares a esta minha aventura! :)

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    2. Assim já dá para seguir, já está bom :). Já te estou a seguir :).

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  2. Estou a adorar! E sinceramente, estou a ficar apaixonada por Bruxelas.. A mãe de uma amiga minha está lá a morar e agora tenho imensa vontade de lá ir!
    Um beijinho

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    1. Ai e eu acho que deves mesmo aproveitar essa oportunidade!
      Até porque adorava ter mais uma blogger que partilhasse fotografias e um pouco da visão que teve sobre Bruxelas.
      As experiências nunca são iguais e isso é que torna sempre tudo mais interessante :)
      Beijinho*

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  3. Que viagem atribulada! É tão bom quando tudo se recompõe :P Adorei ler as tuas peripécias madame :P Ahaha! A casa é realmente linda e lembra realmente o Sozinho em Casa.
    Beijinhos grandes ❤
    EVENING BREEZE

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    1. A viagem atribulada ainda mal começou! ahahah
      Obrigada pelo teu comentário, Rita!
      Um grande beijinho também para ti*

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  4. Descobri o teu blogue há pouco tempo mas ainda bem que o descobri porque estou a adorar estes teus relatos sobre a viagem! ahah
    Vivi em França durante 4 anos e vou lá regularmente e Bruxelas parece ser bastante parecido. E de facto, eles lá têm muito gosto nos jardins e essas coisas :)
    beijinhos

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    1. Olá, Rita!
      Acredito que possam partilhar este gosto pelos jardins porque
      também já vi fotografias lindíssimas de lá apesar de nunca ter ido :)
      Fico contente por começares a seguir esta viagem! ahah
      Um grande beijinho*

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