27.1.16

Para ti, Joana


Não quero cair na tentação de te chamar melhor amiga nem irmã, mesmo que muitas vezes faça sentido designar-te assim. Não quero limitar-me às frases que encontro no tumblr e muito menos quero que cada palavra de hoje não seja minha. A verdade é simples e não quero que levantes voo sem a saber. 

       Ainda me lembro do dia em que me enviaram a lista de pessoas com quem ia viver na residência, com a respectiva foto. Era Julho e apesar dos nove quartos, reparei que éramos só três ou quatro portuguesas. Tentei encontrar o teu facebook dois meses antes de começar a viver contigo. Percorri todas as tuas fotos (no meu melhor momento stalker de 2012) e vi que vinhas da tua ilha preferida, a Madeira. Para ser sincera, nesse momento só pensei o quanto sofri de dores de ouvidos da pressão do sobe e desce de quando lá fui há uns largos anos. 

      Não criei expectativas. Aliás, escolhi ir para uma residência com bastantes quartos mesmo para ter oportunidade de conhecer várias pessoas e abandonar a sala quando me apetecesse. Gosto de convívio, mas não há nada como ter o meu tempo comigo mesma. O segundo por vezes é tão bom ou melhor que o primeiro. Talvez tenha sido por isso que tenha começado a gostar de ti. Eras bem-disposta, passavas imenso tempo dentro do teu quarto, tinhas um robe com mais bonecos do que o meu, não gostavas das mesmas pessoas lá em casa do que eu, metias atum em quase todas as tuas refeições, eras fixe.

            Cinco meses depois, lembro-me de abrir a porta pouco depois da meia-noite e quatro ou cinco amigos teus entrarem com bolo. Não os conhecia, ainda pouco te conhecia a ti e sem saber, foi o teu primeiro aniversário que passei contigo. Esse primeiro ano passou a correr e de todas as decisões que já tomei na vida, ter convencido o meu pai a deixar-me ficar mais um ano na residência foi uma das melhores de todas.

          Voltámos a Setembro e eu voltei a receber uma lista de pessoas que estariam na residência nesse semestre. Ver novamente a tua foto no quarto nº 9 dessa lista fez-me sentir em casa. Acho que deve ter sido o primeiro momento em que comecei a olhar para ti como a minha família de Lisboa. Depois deste momento, não sei como tudo aconteceu. Não quero tentar procurar no chat do facebook quando passámos de “estás em casa? A máquina de secar já não trabalha outra vez, enviamos e-mail?” para “diz-me que estás em casa, nem sabes o que aconteceu, oh meu deus vais-te rir tanto”. 

           Já tentei, aquilo acusa mais de 36000 mensagens até chegar ao início e sinceramente, acho que só a nostalgia daquilo que consegui memorizar já me enche sem medidas. Lembro-me que nesse ano te dei os parabéns sabendo realmente que fazias anos, quando te encontrei à porta de casa. E foi nessa altura que tudo realmente começou. Ficávamos tardes, noites e madrugadas na sala de estudo. Comecei a confiar em ti pequenas partes da minha vida e senti que também tu te sentias mais próxima. 

            Gosto de pensar o quão natural e espontâneo foi este processo até chegarmos ao dia hoje. Mas gosto ainda mais de pensar que tudo começou com aquilo que sabemos fazer melhor: rir que nem umas perdidas. Podia ser qualquer coisa, uma música, um vídeo, uma foto da y ou uma foto do x, conseguíamos fazer de tudo uma piada. 

           Foi isso que me fez gostar tanto de ti, aquele extremo bom humor a dar toques no sarcasmo que não me deixava parar de rir até me começarem a doer as bochechas. É difícil encontrar pessoas assim, que sejam tão nós, que pensem tal como nós, que percebam da mesma forma que nós. Mas a verdade é que existem, e eu não podia estar mais agradecida por ter-te a ti ao meu lado. Amenizas a minha dor, amplias a minha felicidade, constróis-me a mim como pessoa e presenteaste todos os momentos em que eu de ti precisei. E não há de forma alguma algo que eu pudesse pedir mais. 

           Tu completas tudo aquilo que eu sempre ouvi falar mas que todos os dias ponderei ser ilusório. E é por isso que és a minha MAIOR amiga. Não gosto de dizer que há umas melhores que outras, daí ser um pouco contra à palavra melhor amiga. Sempre fui a favor de termos vários amigos e cada um ser aquilo que mais sabe de melhor. Mas tu és a maior. Aquela que existe em mim mesmo quando não está, aquela que não passo um dia sem falar, aquela a quem tudo conto, aquela que todos os dias me faz falta e aquela que jamais substituirei.

            E hoje estou triste e ao mesmo tempo tão feliz. Triste porque te vais embora e durante cinco meses é como se não tivesse a minha família cá. Todos os momentos em que eu vivi em Lisboa também tu vivias. Se não era na mesma residência, nunca foi mais que duas ruas de distância. Ir ter contigo aconchegava e dava-me forças quando precisava. Acho que não houve nenhuma vez em que fosse ter contigo a chorar que não saísse com um largo sorriso no rosto. É essa felicidade que não tem explicação que sempre senti contigo. Não tínhamos horas para o fazer, se bem que de manhã concordávamos ambas em dormir sem despertador. Tanto podia ser a meio da tarde como sairmos de casa uma da outra às duas da manhã (mesmo que o combinado fosse “passar aí só 20 minutos antes de jantar”). E tudo isso era fruto do à vontade que tínhamos e que pouco partilho com mais alguém. Ai Joana... e pensar que não te vou ter cá para dividir a minha cama enrolada no meu robe cor-de-rosa e falarmos sem assunto durante horas que se estendem sem fim. 

       Mas ao mesmo tempo sinto-me tão feliz por ti. Sozinha e decidida, a lançar-se para outro país cheia de sonhos e positivismo. Um dia quero ser como tu, mas até lá... faço-te uma visita. E coração, eu não meto os pés num avião há oito anos e nunca viajei sozinha, se isto não for amor não sei o que será. Ou talvez até saiba, é um amor MAIOR.

2 comentários:

  1. Está muito bem escrito...
    Parabéns!

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  2. Tão bonito :') a amizade é linda, os seres humanos são maravilhosos*

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