13.10.16

329 Horas Depois - Parte 2


Nessa noite não consegui dormir. Nas poucas vezes em que quase adormeci, a primeira coisa que fazia quando caía em mim, era ver a última mensagem trocada com a Joana. Não é isso que fazemos sempre que temos um pesadelo? Procurar claras evidências de que é tudo mentira e que nos sosseguem o fôlego. Mas não era. "Vai correr tudo bem" era a última mensagem que teimava em aparecer. Vai correr tudo bem. Vai correr tudo bem mas eu já nem sabia por quem mais temia. Sentia-me segura na minha cama mas sabia que dali a oito horas teria que dali sair e continuar. Os meus pais. A minha família. Os meus amigos. Até as raparigas de erasmus com quem vivia e via com olhos de quem não tem medo de partir e viajar. Todos me perguntaram nos dias seguintes: "Sempre vais para a Bélgica? Já cancelaste a viagem? Tens seguro para te devolverem parte do dinheiro? Vais mesmo? Para aquele aeroporto? És doida. És forte. Não tens juízo. Acho que fazes muito bem. É um pouco perigoso agora que está em alerta máximo." 

As opiniões não paravam e eu, eu sabia que não podia cancelar a viagem. Não por uma questão de dinheiro. Não por uma questão de ter imensa vontade de sair de Portugal na altura. Mas sim porque tinha prometido a mim mesma. Tinha prometido que ia meter os pés naquele avião sozinha tremesse o que tremesse, e ia ter com a Joana, viesse o medo que viesse, trezentas e vinte e nove horas antes. Só não estava a contar com um atentado. Mas uma promessa a mim mesma, é das promessas mais importantes que faço e as que desiludem mais quando quebro. Eu ia cumprir o que me tinha prometido e ia faze-lo também pela Joana. Porque haveria alguma vez de querer adiar ou recusar ir ter com ela quando ela mais precisava. Fazer-lhe isso só ia fazer com que ela se sentisse na toca do lobo e não era verdade. Não era! O lobo podia fazer o seu covil lá, como a 30km de distância como a 3 metros de mim. Sim, aqui. Porque o problema não era lá, o problema não tinha morada. O problema, infelizmente, está em todos os sítios que as mentes o permitem estar. E por muito incapacitada que me sinta no que possa fazer quanto a isso, a única coisa certa que via que podia fazer era esta: não parar. Não deixar que eles ganhassem. Não me esconder. Não ter medo. E ir. 

(E assim foi. Bruges, sexta-feira, 22 de Abril de 2016. Coloco hoje e aqui esta fotografia porque corri atrás desta mulher para a conseguir fotografar. Gosto de pensar que esta fotografia revela o meu espírito na altura em que decidi ir. Segura de mim mesma, a tentar equilibrar-me nos meus receios cor-de-rosa e sem olhar para trás. Simplesmente avançar, sem cair, sem curvas, sem certezas de chegar ao destino. Mas com uma vontade extrema de o alcançar. Até já, Joana.)

1 comentário:

  1. Adoro a fotografia, está espetacular e acho que a melhor coisa que fizeste foi ir. Dizem que depois de acontecer, o sitio onde aconteceu passa a ser o mais seguro do mundo não é..? Devias ter orgulho da coragem que tiveste.
    Um beijinho

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